Sempre muito querido por onde passa e muito identificado com os adolescentes e jovens, até por sua pouca idade, conversamos com o padre Diego Azevedo, que contou uma pouco sobre sua vida sacerdotal.
Logo após ser ordenado, Pe. Diego foi enviado para assumir a missão de ser pároco na Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição, na acolhedora cidade de Alfredo Chaves. Atualmente reside em Roma, na Itália, para um período de estudos.
Confira na íntegra a entrevista com o Pe. Diego Azevedo.
Redação – Qual o sentimento de ser ordenado padre e já assumir como administrador paroquial na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Alfredo Chaves?
Pe. Diego – Sentimento de gratidão! Se mil vidas eu tivesse, mil vezes eu escolheria ser padre, e se eu pudesse voltar no tempo, escolheria ser padre em Alfredo Chaves.
No tempo de seminário sempre me questionava sobre a paróquia para a qual o bispo iria me enviar. Nunca imaginei nenhuma paróquia, porque eu sabia que estava sendo ordenado não para fazer a minha vontade, mas sim a vontade de Deus. Deus que escolheu, e como sempre, Ele não erra.
Redação – Nesses anos dedicados a igreja, o que lhe manteve firme na vocação?
Pe. Diego – Desde que entrei no seminário guardei em meu coração esse versículo: “Conservemos os nossos olhos fixos no Senhor” (Hb 12,2). O que me mantém firme é Jesus, por Ele deixei tudo, por Ele entrei no seminário, por Ele e Nele fui ordenado padre.
Eu sei que quando as coisas ficam cansativas e vem o desânimo, é porque estou deixando de olhar para Jesus, porque até mesmo o cansaço Nele tem sentido e valor. Ele é ao mesmo tempo o motivo e a força para continuar a minha vocação.
Redação – Quais foram os sinais da sua vocação e em que momento da sua vida o senhor teve a certeza de que seria padre?
Pe. Diego – Os sinais vocacionais estão contidos na história, Deus fala na nossa história. Desde pequeno, por causa da minha mãe, sempre fui envolvido na Igreja, sempre manifestava o desejo de ser padre. Essa inquietação de fazer a vontade de Deus e de ser padre não cessou na adolescência. Decidi fazer acompanhamentos com os padres da paróquia, fiz visitas ao seminário.
Particularmente entrei no seminário para sair, pois dizia que ser padre não era a minha vocação, podia ir embora. Só que o desejo de ser padre continuava! Fui vendo a bondade de Deus, que conduziu a minha vida ao altar.
Redação – Nós sabemos que o senhor possui muitos dons, como por exemplo o dom da música. Fale um pouco da sua relação com a música.
Pe. Diego – A música foi a maneira pela qual Deus escolheu para entrar na minha vida. A música é aquela melodia que fica e tenta de alguma maneira expressar algo da alma. Falo isso, porque para cada ocasião da minha vida tem uma música que traduz o momento.
Músicas que marcaram a minha vocação, a minha experiência com Deus e que me levaram a oração. Hoje utilizo da música para que isso aconteça na vida de tantos, principalmente apoiando mais as pessoas para utilizar desse dom a serviço da Igreja.
Redação – O senhor sempre teve uma relação muito próxima com os adolescentes e jovens, mesmo antes de se tornar padre. Fale a respeito dessa relação.
Pe. Diego – A minha relação com os adolescentes e com os jovens foi por causa da minha idade, os via como amigos e me unia a eles para a evangelização. Eu fui chamado ao sacerdócio, o que diferenciava era isso, mas ambos tinham o desejo de servir a Deus.
Deus foi muito bom comigo por enviar tantos amigos que tinham o mesmo desejo que eu: evangelizar. Usávamos da nossa juventude para a evangelização. Tenho um carinho muito grande pelo EAC, EJC e MJC, pois eles me construíram e me davam a certeza de que vale a pena servir a Deus.
Redação – Como o senhor enxerga a relação da juventude, nos dias atuais, com os compromissos relacionados a igreja?
Pe. Diego – São João Paulo II nos ajuda a responder essa pergunta, ele dizia que “a Igreja será jovem quando o jovem for Igreja”. A juventude tem muito para ofertar a Deus, grandes santos e santas revolucionaram a Igreja ofertando-se a Deus, como por exemplo São Francisco de Assis, Beato Pier Giorgio e Santa Teresinha do Menino Jesus.
Jovem é aquele que tem muita energia, criatividade e disponibilidade, tudo que a Igreja hoje precisa para a evangelização. Tudo aquilo que o jovem de hoje precisa, é Jesus. Se jovens fizerem uma experiência com Jesus e não o omitirem, atrairão mais jovens para a Igreja. Só digo que os jovens precisam adentrar na igreja, não só ficar nos grupos de jovens, mas entrar nas pastorais, equipe de liturgia, de música e tantos outros movimentos que existem na Igreja.
Redação – Como ajudar os adolescentes e jovens a discernirem sua própria vocação?
Pe. Diego – Não existe outra maneira de discernir a vocação senão se relacionando com Deus e com a Igreja. O jovem já tem que entender que ele nasceu para se entregar por algo, pois nenhuma vida criada por Deus foi feita para si, mas para o outro. Tem que se questionar. Deus não vai pedir nada que não tenha a ver conosco, por isso, é bom entender que Deus fala na história, e cada experiência somada nos leva a algo. Existe também a pastoral vocacional, que nos auxilia em nosso discernimento.
Redação – O senhor tem uma história pessoal de vida que é inspiração para muitas pessoas. Pensando nisso, quais dificuldades o senhor enfrentou como religioso?
Pe. Diego – Já enfrentei muitas dificuldades, mas sempre usei delas para aprender algo. Jó é uma inspiração bíblica para isso, pois combate a ideia de que, quem reza não terá problemas. O sofrimento é próprio da nossa humanidade. Vejo os desafios como uma mão que aperta o nosso coração para saber o que tem lá dentro, por isso, desafio é sempre tempo de conversão.
Redação – Quais os maiores desafios de ser padre?
Pe. Diego – Toda vocação possui os seus desafios, a que vivo hoje é a desconstrução daquela imagem do padre distante e que só vive na igreja e celebra a eucaristia. Realmente a eucaristia é o centro da vida sacerdotal, presidir a missa para mim é a maior alegria do meu ministério. Porém, padre faz mais coisas, temos uma paróquia para administrar financeiramente, além do cuidado pastoral e espiritual. O que mais me incomoda é quando tentam me fazer “angélico”, esquecendo que sou humano.
O padre é gente como todo mundo, ele precisa de tempo para descansar, tempo para rezar, tempo para fazer uma atividade física, tempo para visitar os familiares e amigos, ou seja, é humano. É claro que devem ter maior respeito pelo ministério que exerço, sou homem, mas quando celebro sou “in persona Christi”.
Redação – Com todos os desafios que a igreja já enfrentou e está enfrentando, ainda vale a pena ser padre?
Pe. Diego – Vale! Apesar desses desafios, não podemos desistir. Sempre entendi que, se Jesus havia dito aos seus discípulos sobre os escândalos, é porque haveria. Infelizmente, isso dói, porém apego-me aos santos, através do testemunho deles, digo que vale a pena.
A renovação da Igreja virá pela santidade, homens e mulheres dispostos a viver a altura do evangelho.
Redação – O senhor é muito presente nas redes sociais e por conta disso muitas pessoas conhecem um pouco do seu cotidiano e da sua vida particular. Como o senhor enxerga a presença e a relação de padres com as mídias sociais?
Pe. Diego – Tento demonstrar com discernimento e prudência que ser padre é algo normal, que é possível ser padre sem deixar de ser jovem. Ser cristão não é algo chato, é viver nesse mundo com o coração voltado para o céu. Aproveitar da criação sem se apegar a ela e se admirar com o Criador.
Não é permitir que o mundanismo entre na Igreja, mas ser Igreja no mundo para transformá-lo. Não podemos pensar que ser cristão é sinônimo de tristeza, mas pelo contrário, seguir Jesus é a verdadeira alegria. Cristo não tira a nossa vida, mas plenifica a nossa existência.
Redação – Pe. Diego, pra terminar, gostaria que deixasse uma mensagem para as pessoas que nos acompanham pelas mídias sociais e de forma especial para os que também desejam abraçar a vida religiosa.
Pe. Diego – Meu irmão e minha irmã, precisamos usar todas as ferramentas em prol da evangelização, o “ide a todas as nações e pregai o evangelho” continua para nossa geração.
A Igreja é um grande jardim com inúmeras flores, cada uma tem a sua importância e a sua beleza. Alguns serão chamados ao matrimônio e outros, a vida religiosa, sacerdotal, missionária, entre outras. Para ambas, precisamos de santos, e todas as vocações unidas devem refletir o rosto de Jesus.
No final da nossa vida receberemos de volta aquilo que entregamos nas mãos de Jesus, entregue você também sua vida nas mãos de Deus.